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Tendências STAB - Nov/Dez 2015

O presente texto de final de ano é o de número 120, o que corresponde a 20 anos de colaboração com esta tradicional publicação. Quero assim, antes de tudo, agradecer a confiança da diretoria da STAB e a paciência dos leitores.

O ano de 2015 foi muito difícil para o nosso setor, com muitas empresas fechando as portas e com muitos trabalhadores perdendo o emprego.

Mas por outro lado, aparentemente a diretoria da endividada Petrobrás obteve da nossa presidente liberdade para praticar uma política de preços dos combustíveis que nada tem a ver com controle artificial da inflação.

A volta parcial da CIDE, que inclusive não deveria ter sido zerada em 2012, proporcionou melhor competitividade para o etanol e multiplicou o seu consumo, notadamente em Minas Gerais onde o governo estadual teve o bom senso de ajustar as alíquotas do ICMS conforme praticado por São Paulo há muito tempo.

Melhores preços para o etanol representaram melhores preços para o açúcar no mercado interno. Como o Brasil é o maior exportador mundial de açúcar, os preços do açúcar também tendem a subir no mercado externo, sendo que a depreciação do Real até certo ponto reduz a competitividade dos nossos concorrentes internacionais, cujas moedas desvalorizaram menos do que a nossa.

A verdade é que os governos do PT passaram anos a fio criando no povo brasileiro a sensação de que existe almoço de graça. Mas como almoço de graça não existe, a conta chegou e agora temos que pagá-la. Como o governo continua sendo inepto, o mercado acaba fazendo os ajustes necessários, muito dolorosos, mas inevitáveis.

O cenário neste final de ano continua muito incerto, mas existem circunstâncias que podem ajudar os principais produtos da nossa agroindústria.

Açúcar. Já há algum tempo os especialistas do mercado estão prevendo que os estoques de açúcar a nível mundial vão começar a cair. Mas infelizmente os mercados que estão com a economia em fase de melhora, Estados Unidos e Europa, não são importadores do nosso açúcar. Já Rússia e China que seriam importadores potenciais estão com a economia em marcha lenta. E a Índia continua a subsidiar exportação gravosa! Assim, muito provavelmente haverá forte redução de estoques somente a partir de 2017. Porém, quem quiser aproveitar esta onda de preços altos deverá iniciar seus investimentos já a partir de 2016 para aumentar a sua oferta de açúcar.

Etanol. Há duas boas notícias e uma má notícia. Aparentemente o governo dá sinais de que deixará de controlar artificialmente o preço da gasolina e de que poderá eventualmente trazer o valor da CIDE para níveis mais condizentes com aqueles com a qual a contribuição foi criada. Outra boa notícia é que a Conferência de Paris na primeira semana de Dezembro poderá ajudar a consolidar o etanol como um dos combustíveis importantes para procurarmos atender as metas de redução de carbono no nosso planeta. A má notícia é que a falta massiva de investimentos nos anos recentes vai impossibilitar o atendimento de toda a demanda pelo etanol combustível na próxima entressafra. Para não faltar combustível a única alternativa será via aumento de preços, e logicamente preço alto não é adequado para a imagem do etanol no longo prazo.

Energia elétrica. No início do presente ano ainda havia algum otimismo com relação aos leilões de energia, mas com o decorrer do tempo os preços começaram a baixar e a concorrência da eólica e da solar aumentou. Com a economia do país em retrocesso é provável que apenas projetos pontuais e específicos sigam em frente. Projetos significativos de cogeração virão se houver aumento real de produção de etanol de cana em função de ampliação de canaviais.

Com relação ao processamento da cana de açúcar vamos discutir algumas tendências que observamos ao longo de 2015.

Palha adicional. Parece que 2015 foi definitivamente o ano da virada. Já há consenso entre a maioria dos técnicos de que é melhor trazer a palha enfardada do campo. Existe ainda alguma dúvida a respeito de triturar a palha no campo (usando diesel) ou de triturar a palha na indústria (usando energia elétrica), mas pelo menos no momento a segunda alternativa tem sido a preferida. Esta tendência absolutamente não elimina a necessidade dos sistemas de limpeza de cana a seco (SLS). Separar a palha que chega com a cana picada sempre vai trazer importantes vantagens no que diz respeito à capacidade de moagem, à extração da moenda e à qualidade do caldo enviado para o processo.

Preparação da cana. Os picadores de cana estão sendo definitivamente aposentados. Já estamos fazendo inclusive estudos para substituir desfibradores horizontais por desfibradores verticais, visando reduzir ao mínimo indispensável os transportadores de cana metálicos, reduzindo manutenção e consumo de energia.

Extração de caldo. Os rolos perfurados não são ainda uma unanimidade absoluta em função de problemas de entupimento que ocorreram em algumas aplicações. Mas aparentemente vieram para ficar.

Tratamento de caldo. Não há muitas novidades. O decantador sem bandejas, o filtro prensa, o turbo-filtro e o evaporador tipo multi-calandras devem continuar sendo a tendência predominante.

Produção de açúcar. Entrou em operação em 2015 o primeiro resfriador de açúcar a placas utilizando água gelada. Provavelmente esta tecnologia vai virar uma tendência quando as unidades produtoras precisarem aumentar capacidade de produção ou garantir a qualidade do produto.

Produção de etanol. Há cada vez mais interesse na aplicação do Sistema Geladinho com chiller por absorção para permitir a operação da fermentação com temperatura no limite de 28 C. Proporciona um melhor rendimento fermentativo e uma redução significativa do volume de vinhaça. Provavelmente será uma tendência no médio e longo prazo.

Produção de vapor. As caldeiras de leito fluidizado firmaram-se como uma tendência e com novos concorrentes há alternativas interessantes. O grande desafio técnico será a queima de maiores percentuais de palha juntamente com o bagaço, em função da baixa umidade e dos teores elevados de cloro e de enxofre. Ciclos regenerativos são cada vez mais frequentes, embora os investidores insistam em comprar a caldeira antes da turbina, o que complica todo o processo técnico.

Produção de energia elétrica. Já estamos desenvolvendo projetos básicos considerando motores elétricos com tensão de 690 V. Pode ser interessante do ponto de vista econômico em novas instalações.

Balanço hídrico e sistemas de água. Naturalmente continua o desafio para buscarmos consumo específico abaixo de 0,5 m3/tc. Máxima utilização de condensados do processo é a tendência, assim como a conscientização do uso sustentável da água na operação.

Outros produtos. Vários estudos para produção de etanol de milho foram desenvolvidos, não tendo sido implantados acreditamos mais pela fragilidade da nossa economia. Deverá ser uma tendência associar cana com milho em uma mesma planta. O etanol 2G ainda engatinha no Brasil, sendo que deverá haver um freio nas pesquisas e nos investimentos em função dos preços deprimidos do petróleo. A esperança está nos resultados da conferência de Paris.

Resta desejar a todos um ano melhor em 2016, esperando por um governo com menos parasitas, mais trabalho e com menos postes, mais luz!

Celso Procknor
celso.procknor@procknor.com.br