Redução de custos, eficiência, eficácia, excelência!
Antes de qualquer coisa queremos mais uma vez agradecer o amável convite desta prestigiosa publicação para discorrermos sobre aumento da eficiência e redução de custos no setor industrial. Podemos começar mencionando dois aspectos fundamentais relativos a este tema.
Em primeiro ligar, estamos falando de um setor da agroindústria. Salvo algumas exceções, a maioria dos processos industriais é afetada pelos processos agrícolas, e vice-versa. É difícil dissociar as duas operações.
Em segundo lugar, “aumento da eficiência” e “redução de custos” são via de regra conceitos conflitantes. Nem sempre um aumento de eficiência no processo produz uma redução do custo do produto final, assim como uma redução de custo na produção muitas vezes provoca queda na eficiência do processo. Buscar máxima eficiência a qualquer custo não faz sentido. Buscar mínimo custo perdendo eficiência também pode não fazer sentido.
Eficácia é a busca da redução de custos com o aumento da eficiência, idealizando e implantando processos e sistemas que atingem simultaneamente os dois objetivos.
Perfeição seria obter a máxima eficiência com o mínimo custo. Excelência é a busca constante da perfeição, pois perfeição infelizmente não existe.
Buscamos eficácia com processos de gestão, com novos investimentos ou com ambos. Hoje em dia recursos financeiros estão escassos e caros, e assim temos que pensar em processos de gestão no curto prazo e em novos investimentos apenas no médio e no longo prazo.
Desta maneira podemos ter aumento da eficácia no curto prazo melhorando os processos de gestão.
Neste aspecto dois conceitos básicos são relevantes. O primeiro: Nós só controlamos os parâmetros que medimos de forma eficaz. O segundo: A regularidade de um processo é indispensável para obtermos eficácia adequada.
Os dois conceitos acima estão relacionados com as operações agrícolas, razão pela qual as mencionamos acima. Medir e controlar a qualidade da matéria prima é indispensável. Manter uma entrega regular da matéria prima também é fundamental, pois um processo industrial estável é sempre mais eficiente.
Medir e controlar os parâmetros industriais de forma adequada é fundamental nos processos de gestão. Esta tarefa é tanto mais fácil quanto mais regular for o processo. Devemos lembrar também que conhecimento e informação são mais importantes do que montanhas de dados. O processo de gestão deve valorizá-los de forma adequada.
Dispor dos parâmetros operacionais confiáveis do processo é um bom começo. A partir daí será possível correr atrás de baixas eficiências específicas eventuais: a extração nas moendas, o consumo de combustível nas caldeiras, o consumo de vapor no processo, os vazamentos e os arrastes no tratamento de caldo e na fabricação de açúcar, a temperatura nos fermentadores, a viabilidade da levedura, o etanol na vinhaça, o consumo de energia elétrica na planta, a captação de água bruta, e assim por diante.
Desenvolvendo estimativas de custo operacional industrial para nossos clientes, chamam a nossa atenção os fatores que são mais relevantes (em ordem decrescente): recursos humanos, manutenção, lubrificantes, insumos, etc. Naturalmente se conseguirmos atuar reduzindo estes fatores será possível reduzir o custo operacional em maior escala.
Os custos com pessoal podem ser reduzidos no curto prazo pela implantação de sistemas de automação e de controle. A introdução destes sistemas além de reduzir mão de obra geralmente aumentam a eficiência e a segurança da planta.
O custo anual de manutenção corresponde a cerca de 2% do valor do investimento nos equipamentos e instalações quando a planta é nova, e vai aumentando progressivamente com a vida dos equipamentos. Custos de manutenção podem ser reduzidos com a introdução de materiais adequados e com a seleção de componentes de fabricantes de primeira linha.
O terceiro custo operacional costuma ser com os lubrificantes, e neste caso equipamentos bem projetados e bons sistemas de gestão são indispensáveis. Os insumos em geral também são reduzidos pela utilização de processos adequados e pelo bom controle da aplicação dos insumos.
Já no médio e longo prazo podemos ter aumento de eficácia planejando investimentos na indústria com retorno comprovado. Neste tipo de análise é importante não mirar no curto prazo, são raros os investimentos que retornam muito rapidamente, principalmente no Brasil onde o custo do capital é elevado.
Mas podemos listar a seguir uma série de possibilidades que envolvem tecnologia nova ou tecnologia de outros setores sendo aplicada ao nosso. Será sempre oportuno estudar estas possibilidades para verificar se o investimento retorna na forma de menor custo operacional e de maior eficiência.
Na preparação da cana, usar apenas um desfibrador, não há necessidade de picador de cana para cana picada colhida mecanicamente. Usar o mínimo indispensável de esteiras metálicas, que tem maior manutenção e consomem mais potência elétrica.
Na moagem da cana, desde que as bitolas das moendas permitam, usam camisas perfuradas. Aumenta a extração, aumenta o poder calorífico de bagaço e aumenta a capacidade das caldeiras. Se a moenda tiver cinco ternos todo o ano verificar se a instalação do sexto terno compensa em função da maior extração. Se tiver quatro ternos muito provavelmente compensa instalar o quinto.
No tratamento de caldo usar decantadores sem bandejas, pois o menor tempo de residência diminui a degradação dos açúcares.
Na evaporação usar sistemas tipo multi-calandra ou tipo filme descendente, pois possibilitam instalar menor superfície de troca térmica e permitem limpeza química ou limpeza manual atendendo a legislação trabalhista vigente.
No cozimento usar tachos contínuos, que consomem menos energia e possibilitam automação mais barata. Nos tachos em bateladas instalar circuladores mecânicos, que possibilitam operar com vapor de baixa temperatura e com xarope e/ou mel de alta concentração.
Na centrifugação de massa A para produção exclusiva de açúcar VHP usar centrífugas contínuas, pois são mais baratas e consomem menos energia.
No resfriamento de açúcar usar sistemas com água gelada, para garantir efetivo controle sobra a temperatura final do produto antes do armazenamento. Instalar resfriador a placas quando o sistema existente estiver no limite da sua capacidade.
Na fermentação instalar sistemas de resfriamento com água gelada, para garantir controle da temperatura nos fermentadores e para reduzir sensivelmente o volume de vinhaça. Com menor volume de vinhaça os sistemas de biodigestão para produção de biometano tendem a tornar mais viável a geração de energia elétrica com motores de combustão interna.
Na produção de vapor para ampliação da planta ou para sistemas de cogeração instalar caldeiras com leito fluidizado, pois operam com maior eficiência. Definir a pressão e a temperatura do vapor motriz em função dos ciclos termodinâmicos específicos de cada projeto. Utilizar sistemas de secagem de biomassa que utilizam fontes de calor pobres com baixa temperatura que usualmente são desperdiçadas na usina.
Na produção de energia elétrica utilizar turbinas a vapor com tomadas para ciclo regenerativo, visando reduzir o consumo específico de combustível por kWh gerado. Utilizar geradores de dois polos sempre que for economicamente viável, pois elimina os custos de manutenção com o redutor de velocidade. Eletrificar os acionamentos existentes que tenham turbina a vapor sempre que for necessário e/ou economicamente viável.
No caso de instalação de turbinas a vapor do tipo de condensação, usar condensador a vácuo do tipo evaporativo, pois consomem cerca de um terço da energia elétrica que consomem sistemas típicos com torre de resfriamento.
E finalmente buscar sistemas e equipamentos econômicos no consumo de água e buscar o máximo aproveitamento dos condensados e dos efluentes aproveitáveis.
Então ficamos combinados. Vamos focar no curto prazo nos processos de gestão para estarmos preparados para os investimentos que serão necessários no próximo ciclo econômico favorável ao nosso setor.