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Red Pen, As Built, Hazop STAB - Nov/Dez 2016

Muito provavelmente todos os leitores conhecem os anglicismos acima, já que não existem versões para termos em Português que sintetizem de forma adequada o seu significado.

Há mais ou menos dez ou doze anos eles eram praticamente desconhecidos nas usinas de cana de açúcar, mas tornaram-se corriqueiros quando os grupos empresariais de outros setores da agroindústria, da petroquímica e do óleo e gás entraram no negócio. 

HAZOP é o termo usado para identificar o “Hazard and Operability Study”, um procedimento muito utilizado na indústria como uma ferramenta para a identificação dos riscos potenciais decorrentes da operação da planta. Com o HAZOP é possível desenvolver análises de riscos e tomar as medidas necessárias para a mitigação dos riscos identificados.

RED PEN é o termo usado para identificar todos os documentos técnicos que foram corrigidos ou revisados no canteiro de obras durante a implantação de um projeto industrial. Fica evidente a origem do termo, já que geralmente fazemos as correções ou revisões usando a cor vermelha.

As atividades para gerar o RED PEN devem ser desenvolvidas preferencialmente durante a obra, sempre que possível diariamente, por profissionais devidamente destacados para esta finalidade. É necessário desenvolver a atividade diariamente porque é muito mais fácil detectar desvios do projeto de engenharia durante a execução da obra e até mesmo para evitar possíveis esquecimentos de itens importantes que tenham sido alterados. Os desvios podem ocorrer por falhas no projeto, por falta de informações confiáveis nos documentos dos fabricantes de equipamentos, por erros de topografia e de montagem ou por má interpretação dos desenhos, além de outras causas. Mas se a atividade RED REN estiver em andamento durante a obra, a solução técnica adotada para corrigir o desvio poderá ser logo anotada nos documentos técnicos correspondentes.

AS BUILT é o termo usado para identificar todos os documentos técnicos que foram revisados, após o efetivo término da obra, em função de todas as correções e revisões decorrentes do RED PEN. Desta maneira os documentos AS BUILT indicam fielmente como a obra foi efetivamente implantada, sendo absolutamente primordiais no caso de futuras expansões com eventuais modificações nos edifícios e estruturas, nos equipamentos ou no processo.

Na teoria seria possível fazer AS BUILT sem RED PEN, mas na prática isto não funciona. Depois de pronta a obra é muito mais difícil e demorado identificar eventuais desvios. Sem contar que sempre haverá a questão da inacessibilidade, como por exemplo, fundações e/ou tubulações sob o piso ou equipamentos com grande elevação e sem acesso adequado.

Fazer AS BUILT sem RED PEN costuma ser caro e contraproducente. Quando questionados por nossos clientes a respeito de elaborar AS BUILT de plantas existentes a nossa recomendação é sempre começar somente pelos Fluxogramas de Engenharia. Já que estamos abusando dos anglicismos, falamos sobre os PID (Process and Instrumentation Diagram, P&ID).

Nossa visão é a de que o Gerente Industrial deve ter sempre à mão os PID´s completos e atualizados da usina, sendo que a emissão dos PID´s automaticamente acarreta na emissão de uma Lista de Equipamentos (LE) atualizada, além de um índice de linhas de processo e de uma especificação técnica de tubulações. O AS BUILT completo das instalações diversas poderá ser programado em várias etapas, em função de eventuais intervenções que venham a ser feitas em cada setor da planta.

Podemos agora voltar a falar do HAZOP, pois os PID’s e a LE são atividades predecessoras desta atividade, já que não é possível desenvolver o HAZOP sem PID’s e LE completos e atualizados da planta.

A norma internacional IEC 61882 propõe um quadro de definições, técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de estudos de HAZOP, os quais basicamente obedecem a sequencia lógica abaixo:

O HAZOP é desenvolvido com a ajuda de software dedicado para esta finalidade e consiste basicamente na análise individual de todos os “nós” de todos os PID’s para determinar as causas e as consequências de eventuais desvios operacionais relacionados com parâmetros de processo tais como: vazão, pressão, temperatura, nível, vibração, ruído, vazamento, etc. Para cada risco identificado são atribuídos graus de frequência, severidade e possíveis salva guardas e recomendações visando mitigar estes riscos.

É preciso ter em mente que o HAZOP é uma ferramenta relativamente cara, especialmente porque requer a dedicação de uma equipe multidisciplinar por períodos relativamente longos de tempo. Esta equipe deve ser composta por técnicos que tenham responsabilidades relevantes (engenharia, operação, manutenção, segurança, meio ambiente, etc.) na planta que está sendo analisada, os quais devem considerar as suas responsabilidades durante o desenvolvimento do HAZOP. Em função do seu custo elevado o HAZOP deve sempre ser bem planejado no sentido de trazer retorno em função do tempo e dos esforços despendidos pelo grupo de técnicos da planta.

As características da ferramenta HAZOP para a análise de riscos são basicamente as seguintes:

- É bem fundamentada: estruturada, sistemática e abrangente.

- É relativamente fácil de aprender e de aplicar.

- É adaptável à grande maioria das operações nos processos industriais.

- Permite a troca de conhecimento e de experiências entre os participantes.

- Ajuda a antecipar e prevenir a ocorrência de acidentes potenciais.

- É uma espécie de treinamento para os participantes que passam a olhar para o processo a partir de perspectivas diferentes: não “como deve operar” e sim “quanto pode falhar para operar corretamente”.

Para o bom desenvolvimento do HAZOP é fundamental um bom planejamento. Normalmente definimos, em função da complexidade dos PID’s, uma quantidade de homens-hora por PID com alguma margem de tolerância. É importante ter experiência para planejar bem, evitando que falte tempo ou que a equipe fique discutindo sexo dos anjos.

Um problema comum é iniciar o procedimento do HAZOP sem dispor das informações mínimas requeridas. Ainda pior é iniciar com informações incompletas ou desatualizadas. Esta é uma questão crítica principalmente com relação aos PID’s, sendo indispensável que os mesmos estejam completos e atualizados.

Durante as reuniões de HAZOP as normas devem ser estritamente obedecidas. Como é uma atividade multidisciplinar costuma ser comum o eletricista usar o seu celular enquanto quando estão discutindo um aspecto mecânico do processo. Assim a equipe deve ter o mínimo necessário de participantes e estes devem estar 100% do tempo focados nos temas discutidos. Telefones celulares ou equivalentes são proibidos.

Todos os participantes devem estar familiarizados com o processo analisado. Caso contrário, pode se chegar a uma situação em que se fica discutindo ou explicando os PID’s, o que é tempo perdido.

Todas as linhas e os nós de cada PID devem ser analisados e discutidos individualmente, sem exceção. Não se pode omitir nada com a justificativa de que é uma repetição de algo já analisado. Não se pode conduzir o HAZOP considerando informações preliminares de projetos similares.

A composição da equipe é outro fator muito importante para o sucesso da analise de HAZOP. Deve ser principalmente composta por um facilitador, cuja função é pautar as discussões e organizar a sequência das análises; por um relator, que é a pessoa responsável por anotar todos os dados e resultados discutidos; e pela equipe multidisciplinar que deve ser composta por técnicos de diversas áreas (processo, mecânica, elétrica e automação) bem como pessoal de operação e manutenção.

No início deste texto mencionamos os novos grupos empresariais que agora também estão na agroindústria canavieira, mas trazendo uma cultura totalmente diferente. Um executivo com quem trabalhamos ficou perplexo quando constatou que a usina de açúcar que a empresa dele comprou não tinha um manual de operação do processo. Realmente, de uma forma geral os critérios para a operação das nossas usinas são passados adiante de uma forma oral, o que causa enormes transtornos quando há substituição dos operadores e gerentes. Outro aspecto importante é o monitoramento remoto da operação das usinas o qual, como já está ocorrendo em outros setores industriais, rapidamente pode se transformar em operação remota.

Ora, HAZOP, manual de operação, monitoramento e operação remotos exigem que os PID’s estejam completos, com TAG’s bem definidos e sistematicamente atualizados nas mínimas alterações.

Desta maneira tudo começa com o AS BUILT dos PID’s da planta. Mãos à obra! E Feliz Natal!

Celso Procknor
celso.procknor@procknor.com.br