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Condicionamento dos Méis na Produção de Açúcar STAB - Jan/Fev 1998

Temos notado condições de condicionamento dos méis totalmente distintas em várias usinas que visitamos. Algumas vezes existe, por exemplo, diluição excessiva, em outros casos não há simplesmente diluição. Raramente encontramos sistemas que controlam a temperatura dos méis nos respectivos reservatórios.

O correto condicionamento dos méis é importante pelas seguintes razões:

1. A diluição é importante para garantir que cristais que eventualmente passaram pelas telas das centrífugas sejam totalmente dissolvidos. Caso estes cristais retornem aos tachos em outros cozimentos, vão provocar a produção de grãos irregulares, aumentado o CV e baixando a qualidade do produto.

2. Por outro lado, a diluição excessiva provoca um consumo adicional desnecessário de vapor e pode comprometer a capacidade da planta já que há a necessidade de capacidade de evaporação adicional de água.

3. O controle da temperatura é importante para garantir um produto com temperatura ideal na entrada do tacho e para garantir que não vai haver formação de falsos grãos, a qual pode ocorrer caso haja um resfriamento do produto durante a sua armazenagem, dependendo da pureza.

Procuramos indicar abaixo algumas recomendações para o condicionamento dos méis:

1. Os méis deixam as centrífugas com brix na faixa de 80-85%. É importante reduzir este brix para a faixa de 70-75%. Isto significa cerca de 140 kg de água para cada t de mel a ser diluído.

2. A diluição pode ser feita por meio de misturadores estáticos instalados na tubulação logo após o bombeamento dos méis. Tais misturadores (do tipo helicóides invertidos) devem ser corretamente dimensionados para garantir boa homogeneização, e receber água quente de condensados com temperatura na faixa de 60-80 C.

3. Após o misturador um sensor / controlador de brix envia o sinal para uma válvula de controle de vazão de água quente, instalada em uma rede mantida a pressão constante por meio de bombas se for o caso.

4. É importante não esquecer de instalar válvulas de retenção nas linhas, para evitar que mel entre na tubulação de água quente e vice-versa.

5. Recomendamos calibrar o sistema de controle para obter um brix de 75%, já que o aquecimento posterior com vapor vai provocar alguma diluição adicional no mel. Evidentemente este valor pode ser ajustado na prática para cima ou para baixo em função da observação da presença ou não de cristais no mel.

6. Caso a usina esteja trabalhando com separação de méis na massa A, o mel rico pode ser enviado aos tanques de xarope após o seu condicionamento através da própria tubulação de xarope para garantir boa homogeneização, propiciando assim um licor padrão para a alimentação do cozimento A. É mais fácil estocar o produto com pureza mais baixa.

7. O aquecimento também pode ser feito em linha por meio de borbotagem de vapor vegetal V1 (temperatura de cerca de 115 C). Este sistema evita entupimentos e limpezas. A borbotagem também pode ser feita nos tanques de estocagem, mas dependendo das dimensões dos mesmos pode haver dificuldades na homogeneização da mistura, além do que borbotores imersos em mel podem eventualmente entupir.

8. Nos tanques de estocagem um sensor / controlador de temperatura envia o sinal para uma válvula de controle de vazão de vapor vegetal.

9. Recomendamos calibrar o sistema de controle para obter uma temperatura de 75 C. Um mel A típico com pureza de 74% e brix de 75% tem um calor específico de aproximadamente 0,52 kcal/kg.C, o que significa que necessitamos de aproximadamente 1 kg de vapor para aumentar a temperatura deste mel em 1 C. Portanto, para uma variação por exemplo de 15 C no mel, haverá uma redução do brix do mesmo em cerca de 1,2 pontos percentuais.

10. Os tanques e linhas de méis até os tachos devem ter isolamento térmico adequado, para garantir a temperatura desejada. Trata-se de ponto importante raramente adotado nas usinas.

11. Os tanques devem ter os cantos de forma arredondada, de maneira a permitir uma fácil limpeza e de maneira a procurar evitar a formação de cristais de açúcar que se desprendem e podem voltar para os tachos. Os fundos devem ter adequada declividade para evitar a formação de pontos mortos.

12. Os tanques devem ter volume para garantir um tempo de residência na faixa de 2 a 3 h. Isto é importante para garantir um trabalho contínuo dos tachos sem falta de alimentação, além de garantir tempo suficiente para a completa dissolução dos cristais.

13. Os tanques devem ser preferencialmente equipados com agitadores, já que a dissolução dos cristais presentes no mel leva tempo para ocorrer, e com chicanas para garantir que não haja um curto circuito dos cristais dentro dos tanques.

Trata-se de cuidados simples que vão resultar em cozimentos mais homogêneos, mais rápidos e produzindo açúcar de melhor qualidade.

Celso Procknor
celso.procknor@procknor.com.br