Tendências
Chegamos a mais um final de ano e é tempo para uma reflexão sobre as tendências mais ou menos previsíveis para o setor onde atuamos. O ano de 2013 foi pleno de incertezas, mas aparentemente já chegamos ao fundo do poço. Provavelmente o cenário não deve piorar em 2014 e 2015.
No lado do campo a safra de 2014 deve fechar com um significativo aumento de produtividade nas lavouras de cana indicando que, no plantio e na colheita mecanizados, os nossos técnicos já estão galgando mais rapidamente a curva de aprendizado. O plantio com mudas pré-brotadas já é realidade. A produtividade no canavial é de fundamental importância para a saúde do setor, mas é uma pena que quando as coisas começam a melhorar na colheita as autoridades introduzam novas dificuldades como, por exemplo, a lei da balança limitando a carga total dos caminhões em 75 t.
Com o aumento de produção de cana as estimativas dos especialistas indicam que a partir de 2014 o índice de ocupação industrial deverá estar na faixa entre 87% e 89%, prenunciando investimentos na indústria.
No lado do mercado as consultorias internacionais especializadas estão prevendo que os estoques de açúcar devem chegar a níveis normais já a partir de 2014, no máximo em 2015, favorecendo preços mais convidativos para quem planeja investir na produção.
Com relação ao etanol a má notícia vem dos Estados Unidos, que reduziram e exigência da mistura de biocombustíveis avançados em função da demora da entrada no mercado do etanol celulósico, cujas previsões de produção foram muito otimistas há alguns anos atrás. No Brasil esperamos que o bom senso prevaleça na discussão entre o Ministério da Fazenda e a Petrobrás, de maneira que passem a existir regras claras a respeito da política de preços para os combustíveis do ciclo Otto. Novamente, regras claras vão incentivar quem planeja investir na produção.
Já o último leilão de energia elétrica, mesmo com a venda apenas de fontes eólicas a R$ 124/MW.h, confirmou que os preços deprimidos na faixa de R$ 100/MW.h não eram sustentáveis, o que nos leva a crer que nos próximos anos deverão ser retomados os investimentos em cogeração a partir de biomassa com preços mais realistas.
No lado da indústria podemos discutir algumas tendências que notamos ao longo do último ano nos vários setores da produção.
A cana verde picada tem vindo cada vez com mais impureza mineral e vegetal, indicando que no médio prazo será indispensável à adoção de sistemas de limpeza a seco. Sistemas de limpeza a seco em esteiras têm demonstrado ser mais eficientes do que em mesas alimentadoras. Desta maneira a tendência será a descarga em esteiras metálicas seguida de transporte em esteiras de lençol de borracha.
Este sistema de descarga descrito acima torna os picadores de cana peças de museu. A tendência será a utilização apenas de desfibrador na preparação da cana, sem niveladores ou picadores.
Os sistemas de extração de caldo com difusor têm demonstrado ser mais sensíveis para operar com cana com alta quantidade de impureza vegetal do que os sistemas com moendas, não conseguindo atingir os altos níveis de extração prometidos pelos seus projetistas. Desta maneira, a tendência deverá ser a instalação compulsória de sistemas de limpeza a seco quando difusores são utilizados. Importante ressaltar, entretanto, que a impureza vegetal causa também muitas dificuldades na fabricação de açúcar de qualidade, razão pela qual sistemas de limpeza a seco serão bem vindos sempre, com difusor, mas também com moendas.
Nos sistemas de tratamento de caldo a tendência continua sendo o uso da sulfitação com calagem, outros tratamentos alternativos ainda não se consolidaram do ponto de vista técnico e comercial.
Nos sistemas de produção de açúcar dois acidentes marcantes em Outubro devem levar à tendência de projetos melhor concebidos com relação aos respectivos sistemas de proteção contra incêndio e aos sistemas de captação de pó no armazenamento de açúcar. Assim, aspersores sobre transportadores de açúcar e sistemas de captação de pó e portas de explosão em silos de açúcar devem tornar-se mais frequentes nos futuros projetos.
Já para o armazenamento de açúcar VHP deverão tornar-se mais comuns os armazéns tipo “navio” para açúcar a granel. São armazéns que apresentam menor investimento por unidade de açúcar estocado.
A estocagem e o manuseio a granel do açúcar VHP devem baixar os custos da logística, sendo que muito investimentos estão sendo feitos pelo setor privado neste sentido. Nos próximos dois anos deverá entrar em operação no porto de Santos uma “cobertura para navios”, permitindo as operações sob chuva com ganhos relevantes nos custos de logística.
Nas plantas de produção de etanol o milho deve surgir como uma matéria prima alternativa em regiões específicas. Nossos estudos detalhados indicam que é possível produzir etanol a partir de milho com preço de até R$ 15/saca em plantas anexas a usinas de açúcar utilizando a energia disponível a partir do bagaço excedente.
Sistemas de concentração de vinhaça devem ficar cada vez mais economicamente viáveis, pois a aplicação de vinhaça concentrada permite ganhos na aplicação do potássio na lavoura, ou seja, com vinhaça concentrada é possível aplicar muito menos potássio contido na vinhaça por hectare por ano.
Uma possível alternativa para a vinhaça seria a produção de biogás, caso a mesma apresente viabilidade econômica. Há grandes empresas apostando nesta possibilidade, e o Governo do Estado de São Paulo está lançando um Programa específico para incentivar o uso do metano.
O etanol 2G é uma tendência importante e os sistemas de produção integrados com o sistema convencional deverão ser os mais frequentes. Há muita pesquisa e muitos investimentos em curso e o Brasil é um dos mais indicados pontos do planeta para se obter grandes quantidades de biomassa em um mesmo lugar, reduzindo de forma drástica os custos em logística.
Nos sistemas de geração de vapor o uso de caldeiras de leito fluidizado deve tornar-se mais frequente, pois a concorrência entre os fabricantes deve provavelmente conduzir a uma menor diferença de preço entre a nova tecnologia e as tradicionais caldeiras com grelhas. E estas novas caldeiras deverão ser projetadas com ciclos regenerativos, para aquecimento de ar e de água com vapor das tomadas da turbina.
Turbinas a vapor de condensação acima de 30 MW deverão ser do tipo “condensador radial inferior”, eliminando as alternativas recentemente introduzidas no mercado do tipo “axial” ou “radial superior (telefone)”. Condensadores evaporativos, caso sejam uma alternativa, deverão ser considerados desde o início do projeto, pois exigem muito espaço físico próximo à turbina e exigem cuidados especiais no projeto de flexibilidade das tubulações.
Todos os projetos de engenharia deverão continuar levando em conta a profunda mudança que ocorreu no Brasil nos últimos anos, com relação à “legalização” do nosso setor industrial.
Os técnicos devem estar muito atentos para garantir o cumprimento de todas as normas legais e específicas do Brasil e de cada cliente, tomando todo o cuidado para não aumentar demais os custos de implantação e de operação. A “legalização” das nossas indústrias é um caminho sem volta e o projetista deve estar preparado para o desafio.