Inutilidades
Depois de discutirmos as utilidades necessárias na usina, vamos procurar lembrar de certas inutilidades que ainda persistem em algumas das nossas indústrias açucareiras.
Trata-se de equipamentos ou de soluções que foram adequados em algum contexto tecnológico ou econômico ao longo do tempo e que, por hábito ou por comodismo, freqüentemente mantemos sem a menor necessidade. Não podemos ser pretensiosos a ponto de julgar que esta lista está completa, mas poderia ser um ponto de partida no caso de novos projetos. Vamos assim fazer uma relação obedecendo a seqüência normal do processamento da cana de açúcar.
Barracão de cana. Até o nome é antigo. Hoje em dia é necessário dispor de transporte contínuo e estoque mínimo sobre rodas, até que apareça alguma outra alternativa eventualmente mais adequada.
Sistemas para descarregamento exclusivo de cana picada. Durante algum tempo foram importantes em função dos projetos de mesas alimentadoras não serem adequados. Hoje em dia as mesas devem ser projetadas para receber qualquer tipo de cana. E em novas unidades planejadas para operar exclusivamente com cana picada, as próprias mesas alimentadoras correm o risco de ser dispensáveis.
Tanques pulmão para caldo misto. O caldo frio deve ser bombeado o mais rapidamente possível para o sistema de aquecimento, visando evitar contaminações. Os tanques de caldo misto devem ser dimensionados com o volume mínimo necessário para permitir que os sistemas de automação garantam uma vazão estável para o processo.
Sistemas para resfriamento de SO2. Um cliente nos convenceu, inclusive na prática, de que é possível controlar bem a temperatura dos gases controlando adequadamente a vazão de enxofre e a vazão de ar. Isto evita os freqüentes problemas de corrosão que existem nestes sistemas.
Aquecedores de caldo horizontais. Os defensores deste equipamento alegam que no feixe horizontal a natureza do filme de condensado sobre os tubos proporciona uma melhor troca de calor do vapor com os mesmos. Ocorre que nesta aplicação o coeficiente de troca de calor limitante está no lado do caldo, devido às incrustações no interior dos tubos, o que na prática elimina a pretensa vantagem teórica do feixe horizontal. E aquecedores horizontais ocupam mais espaço e são mais difíceis de limpar.
Cobertura em chaminé de balão de flash. É comum vemos aquela cobertura onde o vapor condensa e a água resultante fica pingando. Em alguns casos se coloca um coletor de pingos! O chaminé precisa apenas ser bem dimensionado para ter baixa velocidade do vapor e ser equipado internamente com defletores adequados para evitar que o liquido condensado saia pela sua extremidade. Isto vale para qualquer chaminé para vapor.
Decantador com múltiplas bandejas. Independentemente do tempo de residência do caldo, a tendência é o uso de decantadores sem bandejas operados automaticamente. O tempo em que o operador ajustava manualmente a retirada de lodo já passou, pois os sistemas modernos de automação são absolutamente confiáveis.
Controlador de nível em evaporadores Roberts. São absolutamente desnecessários quando os sistemas de automação garantem vazão estável na linha de evaporação. Além de estabilizar a vazão, temos apenas que controlar o vazio no último efeito se quisermos controlar o brix do xarope.
Aquecedores de xarope por borbotagem. Com esta prática baixamos o brix do xarope de 3 a 4 pontos, o que prejudica muito o balanço de energia da usina. É melhor usar aquecedores tubulares.
Serpentinas em dorna de fermentação. Só tem desvantagem. Ocupa espaço útil, não troca calor de forma adequada e não permite limpeza satisfatória. Trocadores a placas externos e dornas com fundo cônico são indispensáveis.
Válvula quebra vácuo e de retenção em dorna de fermentação. São válvulas de construção especial e que apresentam freqüentes problemas de vazamento. A tendência em novos projetos é deixar todas as dornas conectadas diretamente com a torre para lavagem de gás, mesmo durante as operações de esvaziamento e de limpeza.
Filtros para vinho levedurado. São de uma época em que poderia haver fermentação com caldo não tratado adequadamente. Tomando os devidos cuidados no processo, os riscos para as centrifugas são muito pequenos.
Aparelhos de destilação tipo Flegstil. Não apresentam redução significativa no consumo de vapor, e tem a grande desvantagem de não permitir separar a flegmaça da vinhaça. Hoje em dia, com o aumento das restrições para a distribuição da vinhaça no campo, é importante dispor desta possibilidade. Portanto, a velha coluna B1 volta a ser fundamental.
Tanques para medição de álcool. São fonte permanente de riscos e de necessidade de pessoal. Hoje em dia, medidores em linha podem garantir a monitoração da produção e da qualidade do produto. É necessário apenas um tanque de álcool desclassificado (ou álcool de segunda) para ser usado eventualmente em caso de constatação de má qualidade do produto final.
Turbinas a vapor de simples estágio. Usinas modernas que buscam excelência energética não podem mais usar, nem mesmo na turbo bomba das caldeiras.
Balão separador para turbinas a vapor. São acessórios de uma época em que se usava vapor saturado ou com baixo nível de superaquecimento. As turbinas modernas utilizam vapor com alta temperatura, sendo que cuidados básicos no projeto das linhas evitam completamente a necessidade dos balões separadores.
Purgadores em linhas de vapor de escape. Não podemos nos dar ao luxo de perder condensado de escape em usinas que usam vapor de alta pressão, pois a água de reposição é muito cara. O correto é projetar o coletor principal de vapor de escape de maneira que todo o condensado produzido se dirija para o tanque pressurizado da evaporação onde se instala um purgador tipo eletrônico. Purgadores de linha de vapor de alta pressão devem entregar o líquido para as linhas de vapor de escape por flasheamento. Entretanto, não podemos esquecer das válvulas de drenagem para partida, que são necessárias durante a etapa de aquecimento de todas as linhas.
Estação redutora de vapor perto da destilaria. Existe a noção errada de que válvulas redutoras perto da destilaria favorecem a resposta do sistema de automação para garantir a pressão na base das colunas de destilação. Lembremos que cem metros de tubo de vapor de processo com diâmetro de um metro (40″) contém apenas cerca de 80 kg de vapor, ou seja, muito pouco. Desta maneira, se as válvulas responderem adequadamente, a pressurização da linha será muito rápida. Pela mesma razão, os antigos balões de vapor de escape são totalmente desnecessários, pois não podem servir como pulmão em nenhuma hipótese.
Sala de comando com visão para o campo. Freqüentemente o cliente reclama durante o projeto que o operador da sala de comando não vai conseguir enxergar o que se passa com os equipamentos no campo. Hoje em dia a tendência é o uso de câmaras de vídeo para monitorar os equipamentos essenciais, sendo o processo controlado apenas por meio do sistema supervisório instalado em um centro de operações. Casa de força com sala de comando e sala de reuniões está deixando de existir. O mesmo ocorre com salas de comando para aparelhos de destilação, para caldeiras, etc.