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Subprodutos, o Bagaço STAB - Mar/Abr 2000

Realizou-se em Miami no início de Março passado a “World Sugar By-Products 2000″, uma conferência internacional totalmente dedicada aos subprodutos da indústria açucareira, organizada pela F.O. Licht.

Analisando os trabalhos apresentados na conferência e conversando com técnicos que estiveram presentes, pudemos concluir que não apareceram novidades significativas nesta área.

Olhando o problema sob outro prisma, pode-se dizer também que há inúmeras sugestões e alternativas de subprodutos oferecidas por técnicos diversos, criando uma sensação de que somos incompetentes de não podermos aproveitar uma sequer delas. Muitas vezes o excesso de possibilidades nos faz perder o foco do problema, e deixamos de enxergar a solução que atende à nossa realidade econômica específica.

O processamento da cana de açúcar no Brasil nos propicia basicamente o açúcar, o álcool (ou melaço) e o bagaço.

O açúcar pode ser usado, por exemplo, como matéria prima para vários produtos bio degradáveis, tais como detergentes, plásticos, etc. Embora os processos sejam tecnicamente viáveis, o custo desta matéria prima ainda é inviável. Além disso, caso seja atingida a viabilidade econômica de algum deste produtos, como são itens de grande demanda, certamente pressionariam imediatamente os preços do açúcar e consequentemente influiriam na sua viabilidade.

O álcool também pode ser usado como matéria prima na indústria química e petroquímica, mas como no exemplo acima, o seu custo inviabiliza a maioria das possíveis aplicações. No momento a vocação para o álcool é sem dúvida a de ser um combustível limpo de fonte renovável. Para o futuro devemos lutar para que venha a ser o combustível adotado para as células de combustível (fuel cells), em substituição ao metanol que provem de fontes não renováveis.

O melaço pode ser matéria prima para vários produtos oriundos principalmente de processos fermentativos, tais como leveduras diversas, MSG (monoglutamato de sódio), ácido cítrico, etc. Ocorre que tais produtos tem uma demanda pequena comparada com o seu potencial de produção em função da disponibilidade de melaço. Isto torna o problema comercial e não técnico, pois o importante passa a ser o controle dos nichos específicos de mercado e não o custo e a qualidade do produto final.

O bagaço é dos produtos listados o que tem tido o menor valor agregado. Pudera, se o Brasil produz cerca de 300 milhões de toneladas de cana, temos cerca de 80 milhões de toneladas de bagaço. Este número pode aumentar significativamente com a adoção da colheita de cana crua. É igual ou maior do que a produção de grãos no Brasil. Como é possível fazer alguma coisa produzida em tão grande quantidade ter valor?

A resposta é produzir, com baixo custo, algo que também seja consumido em grande escala. Produtos com baixa demanda, tais como ração animal por exemplo, vão depender de controle de mercado e não resolvem o problema no âmbito da indústria açucareira brasileira como um todo.

Pasta de celulose para produção de papel por exemplo é um item de demanda alta. Infelizmente para nós do setor açucareiro o Brasil produz celulose de excelente qualidade e a baixos custos, e como para extrair o açúcar da cana somos obrigados a produzir um bagaço com fibras muito curtas, ele não se adequa do ponto de vista de qualidade.

A produção de álcool a partir de bagaço ainda esbarra na falta de uma solução econômica para a hidrólise da celulose e para uma fermentação que produza vinhos com teor alcoólico satisfatório. Naturalmente tem ocorrido avanços, mas por enquanto esta rota está mais para controle de poluição causada por resíduos de biomassa do que para uma rota de produção normal.

Devemos então adotar soluções de fábrica pouco eficientes para evitar sobras de bagaço?

Naturalmente que não. Acreditamos que o produto de grande demanda que pode ser obtido a partir do nosso bagaço chama-se energia elétrica.

O bagaço é um produto de baixa densidade aparente e de baixa densidade energética (baixo poder calorífico quando comparado com outros combustíveis). Portanto, quaisquer sistemas de manuseio e sistemas de estocagem costumam ser proibitivamente caros.

A geração de energia elétrica permite esta possibilidade de fazer o bagaço desaparecer tão logo o mesmo é produzido. E transportar a energia elétrica por meio de linhas muitas vezes já existentes é mais racional. Nada mais incoerente do que gastar óleo diesel para transportar bagaço “in natura” de um canto para outro!

A dificuldade de se estocar o bagaço nos conduz a soluções de se queimar o mesmo durante a safra, sem estocar em grandes volumes. Como os compradores de energia elétrica querem suprimento durante todo o ano, as termoelétricas a bagaço devem prever um combustível auxiliar para operar na entressafra (gás por exemplo).

Este arranjo permite manter o negócio andando, mesmo que apareça alguma utilidade econômica para o bagaço no futuro. É questão de comparar o preço do bagaço com o preço do combustível auxiliar e decidir o que fazer com ele.

A nosso ver nós técnicos temos que procurar soluções econômicas em energia, visando a sobra de bagaço, sempre.

Cabe aos empresários do setor uma ação coordenada junto aos compradores potenciais de energia elétrica para viabilizar os preços e junto aos órgãos oficiais para viabilizar os aspectos normativos e legais do negócio.

Não podemos perder o foco! Pelo menos no médio prazo a produção de energia elétrica é que pode realmente agregar valor ao bagaço da cana de açúcar. Outros subprodutos certamente também serão lucrativos, mas serão exceções muito mais decorrentes de empresas que detém o controle de seus nichos de mercado do que uma solução mais geral a nível de Brasil.

Celso Procknor
celso.procknor@procknor.com.br