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O Resfriamento de Geradores de Baixa Potência STAB - Jan/Fev 1996

Toda usina de açúcar ou destilaria de álcool, salvo raríssimas exceções, possui a sua casa de força onde via de regra é gerada toda a energia elétrica necessária para o processo e muitas vezes também para outros consumidores externos à planta industrial.

Nos últimos anos temos visto a implantação de novas casas de força com geradores com capacidade de até 10.000 kw. Normalmente, geradores com capacidade de 2.500 kw e acima possuem sistema de resfriamento ar/água, sendo que o ar de resfriamento que passa por dentro do equipamento está sempre em circuito fechado, não necessitando portanto ser filtrado.

A instalação dos trocadores de calor ar/água pode ser inferior, superior ou lateral em relação ao gerador.

Quando a casa de força é instalada em dois níveis, nós particularmente consideramos a montagem inferior a mais adequada, já que nos parece lógico reservar o piso inferior para todos os equipamentos periféricos tais como tanques, bombas, filtros e resfriadores de óleo, condensadores de vapor de labirinto, tubulações de água e de vapor, etc. além de haver menor risco teórico de se enviar água para o gerador no caso de um vazamento no trocador (possibilidade relativamente remota quando a manutenção de entressafra é bem feita).

Quando a casa de força é instalada em apenas um nível, temos que optar entre a montagem superior ou lateral. Desde que haja altura suficiente, nós preferimos a montagem superior, pois neste caso a largura do gerador fica normalmente mais compatível com a largura do turbo-redutor, o que significa um arranjo físico mais fácil e uma maior economia de espaço horizontal. Entretanto, é bom lembrar que a montagem lateral, a qual normalmente é feita com dois trocadores, um de cada lado, tem a vantagem teórica de se poder operar a máquina com uma menor capacidade no caso de uma falha em um dos dois trocadores.

Embora a tendência no setor sucroalcooleiro seja a de se instalar geradores de capacidade cada vez maior, é importante lembrar que existe uma enorme população de máquinas em operação na faixa de até 2.000 kw. A grande maioria destas máquinas é resfriada com ar em sistemas abertos, sendo o ar de resfriamento usualmente captado através de filtros de manta.

Como as usinas e destilarias apresentam normalmente uma grande quantidade de partículas em suspensão, geralmente bagacilho ou carvãozinho, estes filtros se entopem com facilidade, exigindo uma manutenção trabalhosa e constante a qual, quando não é feita a contento, pode resultar em danos importantes ao gerador.

Nosso objetivo aqui é mostrar uma solução simples de adaptação de trocador ar/água para um gerador típico das usinas/destilarias brasileiras. Nestes casos, por simplicidade e economia, a solução do trocador superior é a mais recomendada, embora também possa ser adotada a solução de montagem inferior no caso de se ter a casa de força em dois níveis.

A figura mostra um gerador de 1.200 kw sobre o qual foi adaptado o trocador ar/água. Os critérios básicos para o projeto estão descritos a seguir:

  • deve ser selecionado um trocador ar/água com feixe tubular retangular, utilizando tubos aletados de cobre;
  • o trocador deve ter capacidade de troca térmica na faixa de 6% da capacidade do gerador, neste caso cerca de 75 kw;
  • o trocador deve ser calculado com água de resfriamento a 32 C, a menos que se tenha garantia absoluta de que vai haver água disponível a menor temperatura; evidentemente esta água deve ser limpa, ou de preferência passar por filtros de areia;
  • deve ser considerada a perda de carga no lado água para se garantir a vazão necessária no trocador, sendo que normalmente o fabricante do trocador deve se limitar a um máximo de 5 m.c.a.;
  • deve ser considerada a perda de carga no lado ar, para se ter certeza de que o sistema de ventilação do gerador é compatível com a pressão de ar necessária; normalmente uma perda de carga na faixa de 15 a 20 mm.c.a. é aceitável;
  • deve ser considerada a vazão de ar proporcionada pelo ventilador do gerador, a qual normalmente pode ser obtida com o próprio fabricante; caso este dado não esteja disponível, é perfeitamente possível fazer uma avaliação relativamente precisa desde que se tenham as dimensões e a rotação do respectivo rotor do ventilador;
  • deve ser considerada a temperatura prevista do ar, dado também a ser obtido com o fabricante do gerador; normalmente esta temperatura está na faixa de 60-65/38-40 C (temperatura de entrada/saída do trocador);
  • em alguns casos a entrada/saída do ar na carcaça do gerador é feita pela parte inferior, mas normalmente é possível “girar” as tampas respectivas da carcaça para se ter a entrada/saída para o lado superior;
  • o trocador deve ficar apoiado em um suporte adaptado à própria carcaça do gerador, já que normalmente a carcaça tem resistência suficiente para suportar o peso do trocador cheio de água;
  • devem ser construídos dois dutos para o ar, os quais vão aparafusados aos bocais do gerador e aos bocais do trocador de calor;
  • os dutos de ar devem ter defletores internos que evitem turbulência ou caminhos preferenciais; este é um detalhe muito importante e também vale para outras aplicações similares;
  • no duto de saída do ar, após o trocador, é recomendável instalar uma poceta que coletará a água no caso pouco provável de um vazamento significativo de água no trocador; nesta poceta é instalado um sensor de proximidade capacitivo, que no caso de presença de água poderá disparar um alarme ou eventualmente desarmar o gerador.

A solução proposta é tecnicamente simples e relativamente barata. Protege o equipamento contra as impurezas contidas no ar externo, evita a manutenção constante e desagradável dos filtros de ar e, em alguns casos específicos, pode eventualmente até contribuir para que se possa exigir mais potência do gerador caso se tenha turbina suficiente para isso.

Celso Procknor
celso.procknor@procknor.com.br