Bica de Jogo X Esteira de Borracha
Normalmente a boa eficiência de uma planta de processo está ligada ao conceito de continuidade operacional. Quanto mais constantes forem as condições de operação de um dado equipamento, maiores as possibilidades do seu sistema de automação garantir níveis de eficiência perto do ideal.
Nas usinas, aos poucos, as operações unitárias que eram atendidas com equipamentos a bateladas passam ser atendidas por equipamentos de operação contínua.
Os sistemas de fermentação contínua são hoje uma realidade inconteste, e a operação contínua favorece demais a automação da fermentação.
Os sistemas de cozimento contínuo também começam a ter aceitação no Brasil, embora já sejam realidade no exterior para qualquer tipo de massa cozida.
A única operação que ainda não é processada de forma contínua nas usinas é a centrifugação de massa A para a produção de açúcar cristal de alta qualidade, embora vários fabricantes de centrífugas já tenham desenvolvido equipamentos contínuos para a produção de açúcar tipo demerara ou refinado. Acreditamos que no futuro também será possível dispor de equipamentos contínuos para esta operação. Teremos então chegado à fase da usina contínua, o que vai favorecer a eficiência do processo e a otimização do uso das utilidades (vapor, água e energia elétrica).
Enquanto este tempo não chega, temos que conviver com as centrífugas automáticas, as quais por motivo de economia (custo inicial e manutenção) estão sendo fabricadas com capacidades cada vez maiores. Máquinas com capacidade de 2.000 a 2.200 kg de massa cozida já são uma realidade.
Estes equipamentos descarregam de 900 a 1.000 kg de açúcar por ciclo, causando problemas de picos de carga nos sistemas de transporte de açúcar úmido e nos sistemas de secagem / resfriamento do açúcar, justamente pela falta da continuidade de fluxo no processo discutida no início.
É complicado pensar em uma espécie de moega pulmão de açúcar úmido para uniformizar a carga no secador / resfriador, em função dos esperados problemas de empedramento do açúcar.
Assim é necessário procurar pensar em um tipo de transportador de açúcar úmido que de certa maneira tenha algum efeito de "dosagem" do açúcar descarregado das centrífugas.
A conhecida bica de jogo acionada por meio de eixo excêntrico, equipamento que é quase um padrão nas usinas brasileiras, tem esta característica de dosar em parte a carga de açúcar. Entretanto trata-se de equipamento que mecanicamente deixa muito a desejar quando se tem um pequeno número de centrífugas de grande capacidade. A confiabilidade não é boa e os custos de manutenção são muito elevados, pois trata-se de equipamento que por sua natureza tem um movimento com grande amplitude e baixa freqüência.
Uma alternativa para a bica de jogo é a esteira com lençol de borracha. Trata-se de equipamento que consome menor potência e apresenta custos de manutenção muito mais baixos. Apresenta o inconveniente de não dosar a carga de açúcar úmido que é descarregada de uma vez da centrífuga, e sabemos que aumentar o tempo de descarga é uma atitude conflitante com o maior número possível de ciclos da centrífuga que se procura obter.
Outro problema importante da esteira com lençol de borracha é a sua limpeza. Ultimamente empresas especializadas em acessórios para este tipo de equipamento tem introduzido, além das conhecidas escovas rotativas, raspadores especiais que trabalham em conjunto com as escovas rotativas. Os resultados têm sido melhores, mas ainda não são totalmente satisfatórios no que diz respeito à limpeza no piso sob a esteira. Com os programas de qualidade que estão sendo introduzidos nas usinas, temos a impressão de que a esteira com lençol de borracha não será a alternativa mais indicada para quem procura um ambiente limpo livre de insetos.
Outra alternativa é a adoção de transportadores vibratórios com calha fechada, que normalmente podem ser usados em comprimentos de até 40.000 mm. As vazões podem chegar a até 500 m3/h, o que corresponde a cerca de 300 t/h no caso do açúcar nestas condições. O transportador deve ser corretamente dimensionado levando-se em conta a descarga instantânea de açúcar, a qual depende da capacidade das centrífugas.
Embora tenham custo inicial mais elevado do que a tradicional bica de jogo, garantem uma limpeza muito melhor por serem fechados.
Os problemas de manutenção são muito menores, já que a calha transportadora está apoiada sobre feixes de molas de aço liga especial fixados por parafusos. Dependendo da capacidade, os vibradores também podem estar fixados à própria calha, evitando assim pinos e buchas que são motivos de constantes problemas de manutenção.
Acreditamos que o transportador vibratório, de preferência com a calha construída em aço AISI 304, é a solução tecnicamente mais adequada para a descarga de açúcar úmido das centrífugas de grande capacidade.
E já que estamos falando de descarga de açúcar, é interessante discutir uma solução adotada para a rosca de descarga de magma das centrífugas contínuas de massa B ou C. Se introduzimos uma pequena inclinação da rosca na direção das bombas de magma, o escoamento do magma fica muito melhor. E a instalação do acionamento da rosca no lado oposto ao das bombas evita todos os vazamentos pelas gaxetas, já que normalmente o nível do magma diluído não atinge a caixa de gaxetas. Funciona.